sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Dizem que quando nasci, minha mãe “quebrou o resguardo” e por conta disso, tive que ser criada e educado pelos os meus avós.



Lembranças de uma infância feliz”.


Sou a quinta filha de uma família composta por sete irmãos:
Evanda, Elder, Geovany, Franquinha(eu), Mirta, Jander e Cristina.
Passei metade da minha infância no interior da cidade de Forquilha chamado “Mulungum”.
Era e ainda é um lugar muito aconchegante para morar. A maioria dos meus familiares e parentes moravam naquela comunidade. Apesar de não termos tantos recursos financeiros, éramos felizes.
Dizem que quando nasci, minha mãe “quebrou o resguardo” e por conta disso, tive que ser criada e educado pelos os meus avós. Mas, quando minha mãe ficou boa, queria me pegar de volta para morar com ela. No entanto, minha avó e os filhos dela, não permitiram que ela me levasse, pois a essa altura todos já estavam muito apegados a mim.
Tenho um tio materno de nome Raimundo, que foi o maior responsável pela minha educação. Éramos e ainda somos tão apegados um ao outro, que quando comecei a falar eu o chamava de “papai”. Então, ele me explicou que não era para chamá-lo assim, pois o meu pai poderia ficar chateado, afinal ele estava sempre em contato comigo. Ás vezes acontecia de eu chamar os dois de papai, causando um certo constrangimento.
Um dia meu tio veio a mim e falou: “querida, não me chame de papai, a partir de hoje você deve me chamar de titio Raimundo”. No entanto, parecia ser um nome muito grande para pronunciar e passei a chamá-lo de “Mundo”.
Esse tratamento carinhoso permaneceu por muito tempo, até por volta dos meus 15 anos.
De acordo com meus tios, as minhas primeiras palavras foram ditas a partir dos meus 02 aninhos de idade. Era muito chorona e zangada. Quando ficava com raiva, batia a cabeça com qualquer coisa que estivesse em minha volta.
Outro fato interessante que aconteceu na minha infância é que entre os meus 04 ou 05 anos, uma irmã de minha mãe chamada Aparecida (11 anos de idade), a qual eu chamava de “Cida”, colocou-me em cima de um jumento e pôs ele para correr comigo na cangalha. Foi então que vinham alguns trabalhadores da vazante e conseguiram parar o jumento. Dizem que o jumento tanto corria quanto relinchava. A partir daquele dia todas às vezes que eu via um jumento, começava a relinchar, imitando o dito cujo.
Recordo-me também que um dia, eu e minha irmã Mirta resolvemos cortar os cabelos uma da outra. Pegamos uma tesoura e um pente, fomos para debaixo de uma árvore que ficava ao lado da casa onde morava minha mãe. Então, começamos a colocar em prática o ato combinado. Minha irmã deu uma de esperta e pediu para cortar primeiro o meu cabelo. Dá para imaginar o que aconteceu; ela estragou todo o meu cabelo. Quando ela viu o estrago que tinha feito, não deixou que eu cortasse o dela.
Comecei a chorar com medo da reação que minha mãe teria. Entrei em casa e logo que ela me viu começou a passar sermão nas duas. Para finalizar a história, deram um corte radical no meu cabelo para corrigir os defeitos que minha “irmãzinha” fez.
Meu pai era pescador e professor. Trabalhava em casa para a prefeitura de Sobral, alfabetizando crianças da comunidade de “Mulungum”. Nessa época eu tinha entre 5 ou 6 anos e tinha uma enorme vontade de estudar. Porém, naquela época, as crianças só começavam a estudar a partir dos 08 anos. Isso acontecia devido as pessoas acharem que a criança teria entendimento das coisas a partir dessa idade. E, apesar de não participar diretamente das aulas, acabei absorvendo algum conhecimento de forma indireta.
Lembro-me dos banhistas que vinham nos fins de semanas desfrutarem das maravilhas que eram as praias de areia e os pés de oiticica, localizadas às margens do açude de Forquilha. O caminho por onde eles passavam era no terreiro da casa da minha avó. Eu ficava sentadinha debaixo do alpendre vendo todas aquelas pessoas bonitas e desconhecidas. Sempre tinha alguns que mexiam comigo dizendo que eu era uma garotinha muito bonita.
Aos 07 anos viemos morar em Forquilha. Tive um pouco de dificuldade em me habituar aquele novo estilo de vida. Estava acostumada a brincar e viver livre como um pássaro lá onde morávamos. Aqui na cidade as coisas eram diferentes e minha avó não permitia que eu brincasse com as outras crianças.
Iniciei minha vida escolar estudando com uma senhora chamada D. Bárbara. Ela dava aulas em casa e utilizava métodos tradicionais bem arcaicos, como o uso da palmatória e colocar de joelhos sobre caroços de milho.
Somente aos 09 anos de idade é que fui estudar em uma escola convencional. Recordo-me que no meu 1º dia de aula foi um terror.
A professora da 1ª série era muito rígida e isso me causou um certo nervosismo e medo. Ela iniciou a aula com um ditado e eu não tinha muita noção de escrita. O interessante é que eu sabia ler, porém não sabia escrever corretamente ou quase não escrevia. Então, foi um verdadeiro caos. A cada palavra ditada pela professora era como me desse uma pancada. Só restava uma solução: fugir daquele lugar. Sair da sala de quatro pés entre as carteiras e fui esconder-me atrás do prédio da escola, chorando desesperadamente. O vigia que estava passando por ali, viu tudo e foi contar para a diretora. Ela foi onde eu estava e me levou para a secretaria. Ela me acalmou e disse que no dia seguinte iria me colocar em outra sala de 1ª série.
No dia seguinte, lá estava eu na sala da “Tia Helena”. Com ela aprendi a escrever e aperfeiçoei ainda mais a leitura. No final do ano letivo, destaquei-me como uma das melhores alunas da 1ª série “B” do primário.
E, finalmente, aos 12 anos cursando a 4ª série, na mesma escola, fui por várias vezes para o quadro de honra como destaque do mês.

(Francisca Augusto Almeida é aluna do Curso de Letras da UVA, em Sobral)

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